O Cerrado ultrapassou a Amazônia pela primeira vez e apresentou a maior área desmatada entre os biomas, totalizando 1.110.326 ha e aumento de 67,7%

Na Amazônia, a área desmatada em 2023 foi de 454,3 mil hectares – uma queda de 62,2% em relação a 2022.  Houve redução em todos os estados, exceto no Amapá, onde constatou-se crescimento de 27% no desmate. Na região de Amacro, que reúne os estados do Amazonas, Acre e Rondônia – e que já foi considerada a nova frente de desmatamento do Brasil – houve queda de 74% na área desmatada, que ficou em 102.956 hectares em 2023. Os dados são do Relatório Anual do Desmatamento (RAD) 2023, lançado dia 28 de maio.

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Dos 559 municípios do bioma Amazônia, 436 tiveram algum desmatamento detectado em 2023, ou 78% do total. Em todos os 10 municípios que mais desmataram na Amazônia houve queda. Dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa em 2023, 13 estão presentes na lista de municípios do bioma Amazônia considerados prioritários (Portaria GM/MMA 834 de 2023) e todos eles apresentaram queda na área desmatada em relação a 2022. 

“Houve redução no tamanho médio dos alertas e na área desmatada na maioria dos estados, incluindo a crítica região do Amacro.  Por outro lado, observa-se um possível deslocamento deste desmatamento, que está crescendo em outros biomas, particularmente no Cerrado, que apresentou a maior área desmatada no Brasil em 2023”, aponta Larissa Amorim, da equipe da Amazônia do MapBiomas.

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Pampa: redução da perda de florestas

O Pampa registrou uma queda de 50% na área desmatada em 2023, que totalizou 1.547 hectares. Dos 231 municípios do bioma, 97 tiveram algum desmatamento detectado em 2023, ou seja 42% do total. Em apenas cinco deles ocorreu mais da metade (51%) do total desmatado no bioma: Encruzilhada do Sul (334 hectares), Piratini (208 hectares), Herval (130 hectares), Canguçu (77 hectares) e Bagé (49 hectares). 

Mais de três quartos (77,7%) da área desmatada é de formações florestais; um pouco menos de um terço (21,9%), de formação campestre. No entanto,os atuais sistemas de detecção do desmatamento no Pampa (como GLAD e SAD Pampa) estão calibrados para a supressão das florestas e, por conta disso, ainda não monitoram a supressão da vegetação campestre de modo eficiente. Justamente esta que é  a vegetação nativa típica e predominante nesse bioma.

“Se considerarmos os dados de mapeamento da Coleção 8 do MapBiomas, nos últimos cinco anos a média anual da área removida de vegetação campestre  foi de 146 mil hectares. Logo, a queda observada na remoção das florestas em 2023, embora seja um dado positivo, não reflete a realidade de todos os tipos de vegetação nativa do bioma. Isso reforça a necessidade de aprimorar os sistemas de detecção do desmatamento, especialmente para a vegetação campestre, especialmente neste momento em que se tornam mais clara as relação entre a perda de vegetação nativa e a intensidade das enchetes”, detalha Eduardo Vélez da equipe do Pampa do MapBiomas. 

Pantanal: Corumbá, MS, responde por metade do desmatamento no bioma

Em 2023 o Pantanal registrou a maior área média dos eventos de desmatamento entre os biomas (158,2 hectares) e um aumento de 59,2% no desmatamento em relação a 2022. Ao todo, 49.673 hectares de vegetação nativa foram suprimidos no ano passado. Pelo terceiro ano consecutivo o Pantanal apresentou a maior velocidade média de desmatamento: 2,1 hectares/dia por evento de desmatamento. Formações florestais e savânicas respondem por 73% do desmatamento no bioma. A quase totalidade (99 %) do desmatamento no bioma está em áreas privadas registradas no CAR.

O município de Corumbá (MS) responde por 60% do território do Pantanal e por metade do desmatamento registrado no bioma no ano passado. É também o quinto município que mais desmatou no Brasil em 2023. Mais da metade (52%) do desmatamento do Mato Grosso do Sul está no Pantanal (bioma que representa menos de um terço do território do estado).

Além de eventos extremos de seca no bioma, o desmatamento tem sido uma outra grande ameaça ao Pantanal. “O desmatamento de florestas e savanas para a formação de pastagem exótica acontece em grande escala. A preservação dessas áreas florestadas e o manejo das pastagens são fundamentais para a manutenção da biodiversidade de fauna e flora, em conjunto com os sistemas tradicionais de pecuária do Pantanal’’, explica Eduardo Rosa, coordenador da equipe do Pantanal do MapBiomas. 

Caatinga: desmatamento cresceu em todo o bioma

Mais de um quinto (22%) dos alertas validados em todo o Brasil em 2023 foram na Caatinga, que respondeu por 11% da área desmatada no Brasil no ano passado. Foram 201.687 hectares – um aumento de 43,3% em relação a 2022.

Houve registro de pelo menos um evento de desmatamento em 1.047 (87%) dos 1.209 municípios que compõem o bioma Caatinga em 2023. Mais de 4.302 hectares foram desmatados por empreendimentos de energia renováveis (eólica e solar).

Dentro do bioma, a Bahia lidera o desmatamento, com 93.437 hectares – um aumento de 34% em relação a 2022. Em seguida vem o Ceará, com 32.486 hectares, que representaram um crescimento de 28%. O maior aumento percentual foi registrado no Rio Grande do Norte: 62% (total de 9.133 hectares). Em apenas um estado houve redução no desmatamento: Pernambuco, com 15.996 hectares – uma queda de 35% em relação a 2022.

“O maior desmatamento verificado na Caatinga foi impulsionado pela expansão de atividades agropecuárias, principalmente na fronteira agrícola do MATOPIBA. Um exemplo é o município de Barra, na Bahia, onde há registro do maior desmatamento e alerta no bioma. Um fenômeno que capturamos é o desmatamento para fins de implantação de parques solares e eólicos crescendo pelo bioma”, explica Washington Rocha, coordenador da equipe da Caatinga do MapBiomas.

Mata Atlântica: desmatamento caiu 59%

Em 2023, 12.094 hectares de Mata Atlântica foram desmatados – uma queda de 59% em relação ao ano anterior. A redução ocorreu em todos os estados do bioma, tanto em área desmatada quanto em número de alertas. No bioma, Minas Gerais reduziu a área desmatada em 60% (mais de 7 mil hectares); na Bahia, a queda foi de 53%; no Paraná, foi de 71%.  Apesar disso, dos 10 municípios que mais desmataram, os dois primeiros ficam na Bahia e os oito restantes em Minas Gerais.

A média de área desmatada por dia e a média de eventos de desmatamento reduziram em mais de 50% em relação a 2022. As maiores reduções em proporção foram observadas nos alertas maiores de 100 hectares: 88% menos área desmatada se comparado a 2022 e 90% menos eventos de desmatamento.

“A agropecuária ainda é o principal vetor de desmatamento na Mata Atlântica, além da expansão das cidades, em 2023 observamos áreas desmatadas por desastres naturais causados pelas chuvas em São Paulo e por mineração em Minas Gerais”, aponta Natalia Crusco coordenadora técnica da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.  “Os dados do desmatamento na Mata Atlântica são compatíveis com o aumento das ações de combate à ilegalidade do bioma que tem a menor proporção de remanescentes no país. A trajetória aponta que o compromisso com o desmatamento zero pode ser alcançado na Mata Atlântica”, acrescenta Luis Fernando, coordenador da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.